Jesus não pode ser o legendário 1 – Análise bíblica e teológica

Porque Jesus não pode ser o LEGENDÁRIO #1. Entenda!

Por que Jesus não pode ser o LEGENDÁRIO #1?

Dizer que Jesus não pode ser o Legendário 1 não é exagero, é um alerta necessário. A expressão, usada pelo movimento Legendários Brasil, é um equívoco teológico que precisa ser examinado com cuidado. E não estou usando esse termo de forma exagerada. É só fazer uma leitura atenta da proposta do movimento e confrontá-la com os Evangelhos e com a compreensão bíblica e teológica de quem é Jesus Cristo.

O texto base está no site https://legendarios.org.br:

“O QUE É OS LEGENDÁRIOS? Legendários é um movimento que busca a transformação de homens, famílias e comunidades por meio de experiências que levam os homens a encontrar a melhor versão de si mesmos e seu novo potencial. Devolvemos o herói a cada família, uma declaração que temos como Legendários, é de que somos homens inquebrantáveis diante do pecado, mas quebrantados diante de Deus.”

Também se lê no rodapé do site: “Desafio de transformação de homens e famílias. No sobrenatural de Jesus o LGND#1”.

Mesmo que pareça bem-intencionado, não há como envolver Jesus nesse tipo de proposta sem distorcer sua identidade e sua missão. Vamos examinar por partes.

1. A transformação centrada no homem

A descrição fala de um “movimento que busca a transformação de homens, famílias e comunidades”. A primeira pergunta que salta aos olhos é: é possível transformar famílias e comunidades sem a participação das mulheres, dos filhos, da própria comunidade em sua pluralidade?

A transformação proposta pelos Legendários parece partir de um polo apenas: o homem. Mas não se trata de uma busca, mas de uma afirmação: “devolvemos o herói”, como se fosse um produto pronto.

Jesus, ao contrário, não inicia um movimento isolado de homens. Ele é parte de uma tradição profética que convoca todos à metanoia. Seu chamado é inclusivo: homens, mulheres, pobres, ricos, justos e pecadores. O Reino de Deus anunciado por ele é para todos, e não opera em polos separados. Por isso  Jesus não pode ser o Legendário 1.

2. Protagonismo feminino ignorado

Basta uma leitura cuidadosa de Lucas para perceber o protagonismo das mulheres no ministério de Jesus. Elas, além de receberem cura e acolhimento, também servem, lideram, sustentam e testemunham.

Lucas 8.1–3 mostra mulheres que financiavam o ministério de Jesus. Maria, irmã de Marta, assenta-se aos pés do Mestre como uma aluna, gesto revolucionário para sua época. Maria Madalena é a primeira a testemunhar a ressurreição.

Jesus não forma heróis masculinos. Ele restaura a imagem de Deus em cada ser humano, homem ou mulher, e rompe com as hierarquias de gênero tão comuns em movimentos que promovem masculinidades idealizadas.

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3. A melhor versão de si mesmo?

A frase “experiências que levam os homens a encontrar a melhor versão de si mesmos” parece inofensiva, mas contém um problema teológico sério.

O Novo Testamento jamais nos chama a sermos a melhor versão de nós mesmos. O chamado é para sermos conformados à imagem de Cristo (Romanos 8.29), revestidos da nova humanidade segundo a imagem daquele que a criou (Colossenses 3.10). Paulo afirma que a transformação ocorre pela renovação da mente (Romanos 12.2), obra do Espírito, não de atividades masculinas em grupo.

“Melhor versão de si” é um conceito autoajuda, não evangelho. A proposta cristã não é autoaperfeiçoamento, mas redenção e reconciliação com Deus.

4. O novo potencial

O texto fala de “seu novo potencial”, mas o que é isso? Faltam definições. Nas falas de Legendários, isso parece significar retornar à configuração original do homem.

Ora, a única configuração original apresentada pela Bíblia está em Gênesis 1.27: “E Deus criou o ser humano à sua imagem; homem e mulher os criou”. Qualquer “restart” precisa incluir ambos.

Falar em novo potencial sem explicar o que é, torna-se frase de efeito. E se esse potencial se opõe à imagem de Cristo, torna-se uma distorção.

5. Jesus não é um herói de lenda

A declaração “Devolvemos o herói a cada família” é central para o movimento. Mas aqui reside uma confusão fundamental entre heróis mitológicos e o Servo de Deus. Jesus não é um herói de lenda. Jesus não pode ser o legendario 1, pois não opera como mito nem como símbolo de poder terreno.

Heróis são personagens ficcionais, idealizados, dotados de poderes sobre-humanos, que se elevam acima da condição humana. Jesus não é um herói — ele é o Servo sofredor, obediente até a morte (Filipenses 2.7–8).

Mesmo quando opera milagres, ele o faz por obediência e através do poder de Deus, não por exibir força. O heroísmo exige superação de limites para salvar outros; Jesus entrega sua vida em fraqueza, não em glória humana. Seu caminho é cruz, não insígnias.

O Evangelho não devolve heróis, devolve filhos e filhas, reconciliados com o Pai, e transformados pelo amor. Jesus é o modelo de serviço, não de poder.

6. A ilusão da inquebrantabilidade

Encerram com a frase: “somos homens inquebrantáveis diante do pecado, mas quebrantados diante de Deus”.

Esse tipo de declaração soa mais como presunção do que humildade. Presume-se um estado de santidade alcançado, como se o pecado já não tivesse mais força. A tradição cristã insiste no contrário: somos vulneráveis e precisamos da graça a cada dia.

Paulo lamenta: “o mal que não quero, esse faço” (Romanos 7.19). O próprio Jesus diz: “Quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra” (João 8.7). Não é sinal de força dizer que o pecado não tem efeito; é sinal de alienação.

Jesus, sim, foi inquebrantável diante do pecado. Mas nunca o disse de si mesmo com arrogância. Sempre foram outros que reconheceram sua santidade. Ele viveu sem pecado, mas como servo, não como herói.

Conclusão

Chamar Jesus de Legendário #1 é um equívoco bíblico e teológico monumental. É usar sua imagem para legitimar um projeto que, ainda que bem intencionado, parte de pressupostos que distorcem o evangelho. O movimento Legendários parece convidar Jesus a participar do seu projeto. Mas o evangelho é exatamente o contrário: somos nós que somos convidados a participar do projeto de Deus revelado em Jesus.

Jesus não é um homem que precisa de transformação. Ele é o Filho, o Verbo encarnado, a imagem exata de Deus. Ele não é um herói a ser devolvido à família. Ele é o Salvador que nos chama a seguir, negar a nós mesmos, tomar nossa cruz e participar da família de Deus.

Não cabe a Jesus o título de Legendário #1. Jesus não pode ser o legendario 1, pois seu caminho é cruz, não glória humana. Cabe a nós o chamado ao discipulado, ao arrependimento, à submissão ao Reino. Ele é o Senhor, não o produto de um movimento humano.

 

 

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